Noites Submersas

Que procuras no tempo, quando te socorres da carne!Que procuras no tempo, que não se procure num olhar!Então socorres-te do tempo, para explicar a carne...

sábado, abril 04, 2009



Deixa que as cores te impressionem.....deixem que o som te imopressione.... junta os dois, e delicia a alma, de pequenos pormenores e de grandes sensações....

Gosto da mistrura, sabe bem.....

http://www.youtube.com/watch?v=5qCyZfnLIzg

Toque



A únião faz a força. Sempre que penso em únião penso nas pessoas que eu mais amo, nas pessoas em que as mãos tocam as minhas, sem qualquer engano ou falsidade.

Algumas delas são mãos amadurecidas pelo tempo, cheias de ternura e imensas de generosidade....adimiro-as mais do que tudo na vida, nada me faltou...nada de me há-de faltar enquanto estiverem perto e me tocarem em gestos que só temos capacidade de procurar naquelas mãos ou naqueles dedos.


Existem também as mãos ausentes, às quais telefona-nos para saber como estão, desejando sempre que haja um sorriso do outro lado, ou a inquétude de um abraço prometido entre irmãos
Estas mãos que sevem, para afagar as tristezas alheias e para encher aos poucos o meu coração.


Num abraço as minhas mãos são vossas, e as vossas são as minhas mãos....é assim que a nossa únião também se prolonga, não apenas com as mãos, mas com toda a genorosidade das nossas pequenas existências.....

quarta-feira, abril 01, 2009

Será verdade que os homens amam o que desejam e as mulheres desejam o que amam?

" Não há nada mais importante do que investir no nosso coração. E no coração daqueles que amamos, ainda que nem sempre mereçam. Quem não investe no coração pode ganhar muito na vida, mas não ganha o amor nem a generosidade alheia. É como ter filhos e investir neles, ficamos um passo mais perto da eterniadade."

in, "Onde reside o amor", Margarida Rebelo Pinto

sábado, maio 07, 2005

O tempo passou...

O tempo passou,
E corri em busca do sol,
Mas perdi-me em vão na noite escura...

Procurei o sol,
Parti á sua procura numa manhã gélida de Inverno.
Atravessei as montanhas e desertos do meu pensamento,
Para morrer novamente de fome e de frio.

Ao morder de novo o anzol da ilusão,
Experimentei o sabor desta nova morte lenta,
Que me mantêm ancorada no porto da minha saudade,
Que tão persistentemente me amarra.

O meu corpo balança,
Ao sabor das ondas que me envolvem,
E experimento o sabor continuo do sal no meu corpo,
Que marina de igual forma ao sabor do tempo.

Vejo então o sol nascer a todas as manhãs,
Mas ao encontrar este sol, encontrei também a saudade.
Da saudade que se põe, nas noites escuras,
E ai permanece desde o crepúsculo até ao primeiro raio de sol.

Só lamento, não ter a capacidade de apreciar a lua,
Aproveitar a sua luz pouco reveladora,
E construir uma manhã taciturna,
Que me envolva da doce leveza.

terça-feira, maio 03, 2005

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa

01.04.1931
Publicado in Presença, n.º 36, Novembro de 1932.

segunda-feira, abril 18, 2005

Pablo Neruda - 100 sonetos de amor - LXIX

De Noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem as trevas
como um duplo tambor combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas

Noturna travessia, brasa negra do sonho
interceptando o fio das uvas terrestres
com a pontualidade de um trem descabelado
que a sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.

Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
á tenacidade que em teu peito bate
com as asas de um cisne submergido,

Para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.

in, 100 sonetos de amor -LXIX, Pablo Neruda

sexta-feira, abril 08, 2005

Hoje

Fecho os olhos na anciã de te encontrar,
Por entre cada um dos meus pequenos pensamentos,
E nessa busca eu me perco, encontrando-te.

Mas ao perder-me em cada uma das palavras ditas,
Tenho a noção que vou perdendo o chão que me sustêm,
Perdendo-me do tempo e de toda a minha realidade.

A certeza com que te busco, em cada encontro,
Que tão fugazmente me arrebata a alma,
Faz-me prender no suspiro da tua boca,
Ou, mesmo em todos os sorrisos que da tua boca que eu não vi.

Sinto o tempo em nós,
E o amanhã que não chega, para te poder encontrar,
Mesmo que hoje, estejas na minha memória
Ainda fresco como uma flor que desabrocha para a vida.

Hoje, não penso, senão em ti,
Hoje tive o teu corpo e a tua alma,
Num único instante em que te reconheci em mim,
E foi nesse mesmo instante, que soube me tinha perdido em ti.

Os gestos de um estranho, nas palavras de um conhecido,
Mas a distância quem a soma?
Esta, que nem distância...

A alma, este lugar vago,
Que tão pouco se ilumina,
Hoje irradia ao som da primavera,
Com um rebento que cedo irá desabrochar.

Sinto no ar, o perfume das novas manhãs,
E todo o meu ser se converte aos seus novos estímulos,
Perdendo-se do nó dessas amarras, que cortavam os meus pulsos.

Oh, estranho, que ainda não vi,
É estranho como plantas em mim,
Um sentimento, que há muito sentia desconhecido.

(Com um beijo especial, para um amigo, que magoei sem querer)

Soneto

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

in Sonetos,Luis Vaz de Camões

quinta-feira, abril 07, 2005

Mais um dia...

Mais um dia passou, mais um dia passou e as horas passaram no meu corpo, deixando as marcas dos segundos e dos minutos nos meus olhos e no meu ser.
Penso então, que não deixarei mais o tempo passar em mim, não quero as marcas das tristezas vãs como as de hoje, como as de ontem....
Paro para olhar, e sobre o meu ombro vislumbro o céu que se ergue sobre a varanda do meu quarto e respiro a noite que está preste a emergir, parece que todo o mundo se move á minha volta, mas não ouço mais que o silêncio de um pensamento, ou de vários, que ás vezes se atropelam no meu cérebro.
Mais um dia passou, mais uma noite chegou, acompanhada pelas estrelas e pela lua límpida que irradia de beleza no meu céu... sinto-me pequena, sinto-me parte do mundo que me rodeia em cada respiração, em cada olhar que divaga, ou em cada lágrima que espreita o mundo pelo meu rosto.
Fecho os olhos, o vento, sinto-o; no ar sinto o cheiro agradável da laranjeira que dorme no quintal lá do fundo, envolvida pela terra que a alimenta.
É tão agradável sentir, e cada momento não é apenas mais um.....